Então, tá tudo aí:
um coração restou acelerado e desobediente, desaforado, inconveniente. Não se pode sistematizar sentimentos ou banalizar emoções: nele tudo está em sintonia com a hipérbole maciça e, para qualquer paixão inclemente, ele não sente a menor preguiça: se enrosca no osso da emoção, rói a carne, range os dentes, urra noturna e diariamente.
Este coração está desgovernado, não se pode negociar um trecho de cuidado, uma brecha de precaução.
Tudo o que ele abraça é barulho, imagem turva, ventania, comoção. Tá tudo aí: o ruído que você deixou e um resto de trecos atirados pelo chão.
Tudo que as tempestades derrubaram ele abrigou.
Veja quanto entulho, quantas verdades distorcidas, quanta indecisão. Então, tá tudo aí: um coração desatinado, indisciplinado, indiscreto, indócil, indecente.
Tá enchendo o peito de velharia, entupindo a aorta de putaria, derramando pra tudo que é lado sarcasmo e rancor.
Este coração foi tudo que restou: equivocado, anda chamando desilusão de amor.
( Marla de Queiroz )