Quando Sigmund Freud perdeu sua filha Sophie, ele se viu obrigado a mudar muitas das suas teorias sobre o luto. Ele teve plena consciência de que aquela dor e aquele vazio nunca iriam embora. Poderiam se tornar mais fracos com o tempo, mas nunca sumir. Por sua vez, ele entendeu que não existiam refúgios para onde ir e poder aliviar o sofrimento, porque a morte de um filho era, no seu parecer, algo inconcebível.
Sophie Freud era a quinta filha de Sigmund Freud e Sophie Halberstad. Ela nasceu em 12 de abril de 1893 e quase de imediato se tornou a favorita do pai. Aquela menina, quase sem saber por quê, acalmou o caráter tirânico e patriarcal do pai da psicanálise. Ela era bela, bem resolvida e sempre decidida a seguir sua própria vontade, além do que o ambiente determinava.
Ela se casou aos 20 anos com Max Halberstadt, fotógrafo e retratista de Hamburgo. Um ano depois do casamento entre Sophie e Max Halberstadt, nasceu Ernst Wolfgang. No dia 8 de dezembro de 1918, nasceu o segundo neto de Freud, Heinz. um ano depois Sophie estava grávida de novo.
Ninguém poderia prever que a felicidade da favorita de Freud não duraria muito, e que apenas seis anos depois do casamento ela acabaria falecendo.
Em 1920 a Europa se tornou vítima da gripe espanhola e Sophie, muito debilitada pela terceira gravidez, acabou sendo contaminada em janeiro do mesmo ano. Ela faleceu pouco dias depois, por uma infecção. Quando Sigmund Freud perdeu sua filha Sophie, escreveu sobre o impacto daquela experiência.
Explicou, por exemplo, que não pôde encontrar transporte para estar junto de sua filha nos seus últimos dias. A única coisa que pôde fazer foi ir ao seu enterro e assumir uma perda para a qual ele não conseguia encontrar sentido nem explicação. Não obstante, outro fato que chamou a atenção aconteceu nove anos depois daquela perda.
Em uma carta que ele escreveu para um dos seus melhores amigos e colegas Ludwig Binswanger, ele fala que ainda não havia conseguido superar a perda.
“Sabemos que a dor aguda que sentimos depois de uma perda segue seu curso, mas também permanecemos inconsoláveis e nunca encontramos um substituto. Não importa o que aconteça, não importa o que façamos, a dor sempre estará lá. E é assim que deveria ser. É a única forma de perpetuar um amor que não queremos abandonar.”
-Carta de Sigmund Freud a Ludwig Binswanger-
Quando Sigmund Freud perdeu sua filha Sophie, tentou lidar com o luto a seu modo e o fez durar por mais de 10 anos, até o ponto de ter que reformular esse conceito em suas teorias.
Ele teve que assumir que, na hora de enfrentar perdas, era possível experimentar tanto tristeza quanto melancolia, e que ambos estados eram aceitáveis. Inclusive, a própria dor era um desafio compatível com a sobrevivência. Era, e é, esse laço obstinado que a pessoa se nega a abandonar, porque é o único modo de seguir sentindo o amor de um ser querido.
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