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segunda-feira, 22 de fevereiro de 2021

Freud e a dor da perda da filha


Quando Sigmund Freud perdeu sua filha Sophie, ele escreveu uma carta para seu amigo e colega Ludwig Binswanger. Nela, explicou que, de certo modo, sua dor era uma forma de seguir apegado ao amor e, por isso, era melhor não se desprender totalmente dela.

Quando Sigmund Freud perdeu sua filha Sophie, ele se viu obrigado a mudar muitas das suas teorias sobre o luto. Ele teve plena consciência de que aquela dor e aquele vazio nunca iriam embora. Poderiam se tornar mais fracos com o tempo, mas nunca sumir. Por sua vez, ele entendeu que não existiam refúgios para onde ir e poder aliviar o sofrimento, porque a morte de um filho era, no seu parecer, algo inconcebível.

Sophie Freud era a quinta filha de Sigmund Freud e Sophie Halberstad. Ela nasceu em 12 de abril de 1893 e quase de imediato se tornou a favorita do pai. Aquela menina, quase sem saber por quê, acalmou o caráter tirânico e patriarcal do pai da psicanálise. Ela era bela, bem resolvida e sempre decidida a seguir sua própria vontade, além do que o ambiente determinava.
Ela se casou aos 20 anos com Max Halberstadt, fotógrafo e retratista de Hamburgo. Um ano depois do casamento entre Sophie e Max Halberstadt, nasceu Ernst Wolfgang. No dia 8 de dezembro de 1918, nasceu o segundo neto de Freud, Heinz. um ano depois Sophie estava grávida de novo.

Ninguém poderia prever que a felicidade da favorita de Freud não duraria muito, e que apenas seis anos depois do casamento ela acabaria falecendo.

Em 1920 a Europa se tornou vítima da gripe espanhola e Sophie, muito debilitada pela terceira gravidez, acabou sendo contaminada em janeiro do mesmo ano. Ela faleceu pouco dias depois, por uma infecção. Quando Sigmund Freud perdeu sua filha Sophie, escreveu sobre o impacto daquela experiência.
Explicou, por exemplo, que não pôde encontrar transporte para estar junto de sua filha nos seus últimos dias. A única coisa que pôde fazer foi ir ao seu enterro e assumir uma perda para a qual ele não conseguia encontrar sentido nem explicação. Não obstante, outro fato que chamou a atenção aconteceu nove anos depois daquela perda.

Em uma carta que ele escreveu para um dos seus melhores amigos e colegas Ludwig Binswanger, ele fala que ainda não havia conseguido superar a perda.

“Sabemos que a dor aguda que sentimos depois de uma perda segue seu curso, mas também permanecemos inconsoláveis e nunca encontramos um substituto. Não importa o que aconteça, não importa o que façamos, a dor sempre estará lá. E é assim que deveria ser. É a única forma de perpetuar um amor que não queremos abandonar.”
-Carta de Sigmund Freud a Ludwig Binswanger-


Quando Sigmund Freud perdeu sua filha Sophie, tentou lidar com o luto a seu modo e o fez durar por mais de 10 anos, até o ponto de ter que reformular esse conceito em suas teorias.
Ele teve que assumir que, na hora de enfrentar perdas, era possível experimentar tanto tristeza quanto melancolia, e que ambos estados eram aceitáveis. Inclusive, a própria dor era um desafio compatível com a sobrevivência. Era, e é, esse laço obstinado que a pessoa se nega a abandonar, porque é o único modo de seguir sentindo o amor de um ser querido.